terça-feira, 6 de maio de 2014

Por trás da notícia - parte I


Era um acidente sem gravidade. A ligação era apenas para registrar a ocorrência para os leitores e alertar sobre o motivo das filas naquela região. Liguei uma vez para o órgão rodoviário responsável, mas a viatura ainda estava no local do acidente, e a pessoa que estava no posto matriz (que recebe todas as ocorrências da região) não tinha mais informações. Meia hora depois, liguei novamente para o mesmo posto. Fui indicada a ligar pra o posto mais próximo ao acidente, e foi o que fiz.

Ligando lá, me avisaram que já tinham passado a ocorrência para o posto matriz, e que não iriam pegar o papel do boletim de ocorrência novamente. Fiquei agradecida pela imensa gentileza e cordialidade, desejei bom trabalho e desliguei. Respirei fundo e parti para a quarta ligação. Dei sorte que o responsável pelo posto matriz estava bem disposto. Pedi desculpa por estar ligando pela terceira vez. Pedi até que não brigasse comigo, mas eu precisava muito daquela informação – e quando eu encasqueto com uma ocorrência, eu costumo concluí-la.

O responsável-bem-humorado perguntou se eu tinha xingado o atendente do outro posto, ou algo do tipo, rindo muito da minha cara e dizendo que não, ele não tinha o tal boletim que o tal atendente-gentil-e-cordial me informou. Desliguei triste e desmotivada. Foram quatro ligações em vão em um dia que quase não tinha dado outros casos a se registrar.

Saio do trabalho às 18h, e às 17h40 o responsável simpático do posto matriz me liga. “É a moça que tratou mal o meu colega?”. Sim, ele estava realmente bem-humorado. Logo começamos a rir e ele disse que queria desfazer o mal entendido com o colega e me passar a ocorrência completa. Vocês não sabem o quão gratificante foi esse retorno. Os motivos são inúmeros, mas o mais importante para um jornalista é saber que conquistou uma fonte, mesmo ela não vendo sua onda no cabelo e as covinhas do sorriso. Ele realmente foi conquistado.

Peguei a ocorrência, e como disse no começo, não foi nada demais. Um motociclista que teria ficado preso embaixo de um ônibus, e sofreu ferimentos leves. Ele não tinha nem o nome do ferido ou o local para onde ele foi encaminhado, mas mesmo assim, foi um dos melhores retornos de fonte que eu já recebi na minha futura longa carreira, que inclusive completou recentemente um ano.

~A partir de hoje pretendo dividir com vocês o que acontece por trás da notícia. São muitas histórias além das que aparecem nos jornais e nos sites, e muito mais que isso, uma batalha imensa pela informação correta e completa. Bem-vindos ao meu mundo jornalístico a partir de agora, e boa viagem. ~